O GATO NA HISTÓRIA

gatos intelectuais

Por.: Claudia Porto

 

Do ponto de vista histórico, os gatos têm desemptenhado um papel assombrosamente ambivalente na nossa sociedade.
Venerados como deuses benévolos em certas culuras, noutras foram duramente castigados como agentes do demônio.

Os primeiros gatos selvagens africanos provavelmente foram domesticados ainda nas cavernas e aldeias pré históricas, onde há vestígios de sua passagem. Em 1983, no Chipre, uma escavação arqueológica descobriu um osso de maxilar felino em uma aldeia neolítica.

Mas os primeiros registros de sua criação remontam ao Egito, há cerca de cinco mil anos, onde eram reverenciados e adorados na forma da deusa Bastet.
Os antigos egípcios foram os primeiros a usar o gato no combate aos animais daninhos, especialmente ratos, que atacavam seus armazéns de grãos.
O gato era a encarnação viva da divindade. Quem matava ou feria um gato recebia pena de morte. Quando o gato da família morria, este era embalsamado conforme a riqueza do proprietário. e todos raspavam as sobrancelhas e guardavam luto fechado por muito tempo.
Eram tomadas providências para que o gato tivesse uma boa vida no outro mundo, sendo comum embalsamarem-se ratos junto ao corpo.
Uma pintura mostra a mãe do faraó Akhnaton alimentando um grande gato peludo em um banquete. Por volta de 950 a.C., o culto ao gato estava no apogeu.
Se um casa pegava fogo, eles eram os primeiros a serem salvos.
Milhares de múmias de gatos foram encontradas no Egito. Em 1889, 19,5 toneladas delas foram exportadas para a Inglaterra, moídas e usadas como fertilizante.

Apesar da proibição de importação, muitos gatos foram traficados para diversos países, como a Índia, a China, o Japão e o sudeste da Ásia, locais onde permaneceram sagrados através dos séculos. Também no Islã o gato permaneceu querido, especialmente por ter sido o animal favorito de Maomé, que tratava seu gato Muezza com muita deferência.

Quando surgiu o Império Romano, vários gatos foram contrabandeados do Egito por comerciantes fenícios, e tornaram-se em pouco tempo bastante queridos, por seu auxílio na caça aos animais daninhos.
À medida em que o Império Romano se expandia, o gato se difundia, tornando-se cada vez mais manso.
Há rumores de que tanto os romanos quanto os gauleses teriam adotado o hábito de enterrarem os gatos com seus donos, como comprovam algumas pedras funerárias encontradas em vários países da Europa.

Imagem.: Débora R. Pinto

Gatos estão presentes também na fundação da Escócia, tornando-se os mascotes deste país. Conta a história que o general Galsthelos, sobrevivente do episódio em que Moisés separou as águas do Mar Vermelho, saiu do Egito em companhia de sua esposa Scota, filha do faraó, levando consigo seus inúmeros gatos, fixando-se em Portugal.
Séculos mais tarde, seus descendentes teriam ido para o norte em companhia de seus gatos e fundado um novo país, ao qual chamaram Escócia, em homenagem à sua ancestral.

Na Inglaterra de 936, os gatos haviam se tornado tão valiosos que a lei estabelecia penas severas para quem os matasse, baseadas nas suas qualidades de caçador.
Assim sendo, um gato adulto tinha um enorme valor.

Durante a Idade Média, porém, desenvolveu-se no Vale do Reno um culto no qual os gatos desempenhavam importante papel. Era o ritual da deusa da fertilidade Freya, cuja carruagem era puxada por gatos cinza.
Imediatamente, a Igreja Católica sentiu-se ameaçada e iniciou a caça às bruxas, perpetrando ações inomináveis contra milhares de inocentes e seus gatos, que receberam as mesmas punições, entre elas a morte na fogueira.

Na coroação da rainha Elizabeth I, gatos vivos foram aprisionados e levados em procissão, representando o demônio sob o controle da Igreja; no final da procissão, forma queimados vivos. Na Inglaterra elizabetana, também era comum que gatos fossem colocados em sacos de couro e usados como alvos para os arqueiros.

Com a peste negra, trazida pela enorme proliferação de ratos, que assolou a Europa causando grande mortandade, começou-se novamente a perceber a utilidade de se ter por perto os gatos.

Possivelmente os gatos migraram para o Novo Mundo em companhia dos primeiros colonos. Há registros de gatos embarcados no Mayflower, em 1620.
Porém só no princípio do século XVIII eles apareceram em quantidade considerável, quando os colonos da Pensilvânia importaram muitos destes animais para controlar uma praga de roedores.
Gatos aparecem em algumas obras que retratam a conquista do território americano, entre elas a coleção de livros infantis de Laura Ingalls Wilder, que deixa claro que os gatos eram bastante procurados pelos colonos americanos. Até o famoso Daniel Boone teve ele mesmo um gato cinzento chamado Bluegrass.

Antes da metade do século XVIII, o gato era um animal novamente apreciado pelo grande público, e foi inventada a portinhola que permitia aos gatos entrarem e saírem de casa quando bem lhes aprouvesse.
Tudo indica que o autor dessa fenomenal invenção foi nada mais nada menos que Sir Isaac Newton, para maior conforto de seus muitos gatos.

Na Londres vitoriana, os gatos eram um modismo, fato comprovado pelo grande número de gravuras onde eles aparecem brincando ou vestidos de gente.
Aliás, como nesta época não se castravam animais, muitos filhotes indesejados foram empalhados, transformando-se em obras de uma arte que hoje nos parece macabra.

Arq.: Débora Pinto

Em 1822 foi aprovada na Inglaterra a primeira lei anti-crueldade, e em 1824 começaram a ser fundadas organizações em defesa do gato e dos animais, entre elas a RSPCA. Muitos gatos passaram a receber cuidados especiais desde então.

Muitos chefes de estado adotaram o gato como companhia. Frederico, o Grande e Winston Churchill tinham gatos e os adoravam.
Frederico fez dos gatos os guardas oficiais dos silos e armazéns de seus exércitos. Do gato de Churchill, Jack, diz-se que compartilhava sua cama e estava sempre presente nas reuniões de Gabinete.

Nos Estados Unidos, a presença dos gatos tornou-se tradição na Casa Branca. George Washington era um emérito fã dos felinos.
Abraham Lincoln tinha um gato chamado... Cat ! O primeiro gato siamês a pisar em território americano chegou como um presente ao presidente Rutherford. Theodore Roosevelt tinha um gato chamado Slippers.
E quem não conhece o famoso Socks, gato de Bill Clinton ?

Assim sendo, vemos que ao longo da História o gato foi pouco a pouco se reabilitando e conquistando os corações dos seres humanos de todos os níveis sociais, tornando-se um dos animais de estimação mais populares do mundo, especialmente em países como a Inglaterra, onde a o número de gatos já ultrapassa a população canina.

Em muitos países, é comum a crença de quem não gosta de gatos não é boa pessoa... Uma crença bastante verdadeira, tendo em vista que Napoleão Bonaparte e Adolf Hitler odiavam gatos.

Socks, o gato do Presidente dos EUA, Bill Clinton

Agradeço a colaboração de.: Claudio Porto/Rio de Janeiro (matéria.: O gato na história)
Imagens.: Débora Pinto